segunda-feira, 25 de junho de 2012
Motociclismo: Esporte ou transporte?
A dica de hoje não é minha: reproduzo abaixo o texto do James Stuart Hodge. Se você gostar tanto quanto eu, de um click AQUI para ver o livro dele.
100 anos atrás, pouco depois de sua invenção, dirigir um automóvel era um esporte reservado a ricos aventureiros. Os ingleses e alemães do início do século passado, com seus bonés xadrez, óculos de proteção e uma charmosa echarpe no pescoço, percorriam os caminhos de então a bordo de veículos que exigiam considerável conhecimento e habilidade para serem conduzidos com sucesso. Muito mudou nesses cento e tantos anos.
Os automóveis evoluíram, tornando-se muito mais práticos, seguros e simples de dirigir. Os automóveis modernos são quase utensílios domésticos, uma máquina que quase todos têm e sabem operar.
As quatro rodas lhe conferem grande estabilidade estática e dinâmica, e vários aperfeiçoamentos, como motores confiáveis, câmbio automático, freios servo-assistidos eletronicamente controlados, e direção hidráulica, o transformaram num produto extremamente bem sucedido e num dos pilares do desenvolvimento econômico do século 20.
O automóvel, que antes era usado na prática de um esporte, passou a ser usado como meio de transporte. Mesmo o automobilismo esportivo, que ainda sobrevive, tem nos últimos tempos acentuado a tendência no sentido de diminuir a importância dos pilotos em favor da tecnologia empregada – aerodinâmica, eletrônica, monitoramento remoto do desempenho do carro de corrida, etc.
As motocicletas, logo após sua invenção, tiveram uma história parecida. Pilotá-las era um esporte que exigia muito conhecimento e habilidade, e, devido às suas características próprias, talvez demandassem ainda mais perícia, e certamente sujeitavam o piloto a riscos maiores, que os automóveis.
Também as motocicletas evoluíram nesses 100 anos, mas sua evolução foi um pouco diferente da dos automóveis. Tornaram-se, igualmente, mais confiáveis, mais confortáveis, e mais práticas; todavia, continuam exigindo muito conhecimento e habilidade para serem conduzidas com competência, e continuam sujeitando seus pilotos a grandes riscos, sobretudo no trânsito das grandes cidades e em estradas públicas.
O motociclismo continua sendo, até hoje, um esporte – e talvez por isso seja tão apaixonante! Motocicletas são como aviões: se o piloto não souber o que está fazendo, elas acabarão caindo. Sua instabilidade intrínseca (são só duas rodas), e sua grande capacidade de aceleração e frenagem, não impedem que sejam usadas como meio de transporte; mas elas exigem de seus pilotos um nível de conhecimento e habilidade – perícia – que é característico da prática de um esporte. E de um esporte perigoso!
Este fato não é devidamente enfatizado. As motocicletas são anunciadas e compradas como se aprender a pilotá-las fosse muito fácil; e como se fosse possível a seus proprietários adquirir a necessária perícia e experiência nas vias públicas, enfrentando o trânsito de automóveis, caminhões e ônibus.
O processo de habilitação de motociclistas também adota esta premissa. O exame teórico verifica principalmente o conhecimento das leis de trânsito. O exame prático requer do candidato que mantenha a motocicleta equilibrada; que percorra, a baixa velocidade, uma pistinha desenhada no pavimento de um estacionamento ou de qualquer outra área pavimentada e deserta; e que pare e saia novamente com a motocicleta.
Conseguindo passar nestes dois exames, ele receberá sua carteira de habilitação. Terá, então, autorização legal para imediatamente pegar uma estrada e desfrutar do prazer de pilotar uma moto em velocidade. É quase como ensinar alguém a nadar jogando-o numa piscina funda e o abandonando à própria sorte. Ou permitir que alguém aprendendo a pilotar um avião, com apenas instrução teórica sobre o funcionamento dos controles e comandos e com pouca experiência prática, se aventure em seu primeiro voo solo. Só para pegar o jeito... Repito – motociclismo é um esporte! Não se deve pilotar uma motocicleta pensando em suas obrigações do dia, ouvindo rádio, falando no celular ou fazendo qualquer outra coisa que desvie a atenção da atividade de pilotar a moto. Mais cedo ou mais tarde, e quase sempre mais cedo, vai dar besteira!
As motocicletas podem e devem, devido às vantagens que oferecem, ser usadas como meio de transporte. Mas não se aventure a pilotar uma moto nas ruas e estradas, enfrentando o trânsito de outros veículos, se não tiver recebido instrução detalhada sobre seu comportamento dinâmico: o efeito giroscópico das rodas, e sua influência no equilíbrio da moto; o countersteering (contra-esterço), que é a forma mais precisa, rápida e fácil de mudar a direção de uma moto; a grande transferência de peso para roda dianteira durante a desaceleração e frenagem, e como isso desestabiliza a moto; a grande transferência de peso para roda traseira durante a aceleração, e como isso estabiliza a moto; e o papel da roda traseira na mudança de direção da motocicleta.
Só então, depois de ter tomado conhecimento destas informações e técnicas, e de ter treinado o suficiente para desenvolver sua habilidade, você terá a perícia necessária para se considerar um motociclista, e poderá usar sua motocicleta como meio de transporte.
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2 comentários:
Pra mim moto é "trans-esporte"
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